terça-feira, 23 de agosto de 2011

O voo do oligarca

Fernando Barros e Silva, Folha de S. Paulo

Vestido de branco, com boina, em traje de safari tropical e cercado por serviçais, ele caminha no meio da mata. Poderia ser Muammar Gaddafi em fuga. Mas era José Sarney a passeio.

Reportagem desta Folha revelou que o presidente do Senado usou o helicóptero da PM do Maranhão para fazer o trajeto entre São Luís e sua ilha particular. Numa de suas viagens a Curupu, Sarney estava acompanhado do empresário Henry Duailibe Filho, primo do marido da governadora Roseana Sarney, Jorge Murad, e beneficiário de contratos com o Estado que somam pelo menos R$ 80 milhões.

Flagrado em seu turismo privado com a aeronave paga pelo contribuinte para atender a população em casos de emergência, o patriarca teve a desfaçatez de dizer que viajou "a convite da governadora do Maranhão". E, mais, que tem "direito a transporte de representação em todo o território nacional".

Enquanto funcionários da base da PM carregavam bagagens e caixas de isopor do helicóptero para o carro dos Sarney, um pedreiro acidentado aguardava numa maca, dentro de outro helicóptero, para ser transportado até a ambulância.

Não é por acaso que a capitania hereditária governada há mais de quatro décadas pelo clã Sarney seja um dos maiores cartões-postais da tragédia social brasileira. Não importa qual seja o ranking - mortalidade infantil, IDH, nível educacional, renda per capita em domicílios urbanos, expectativa de vida média -, em todos eles o Maranhão figura entre os Estados mais miseráveis e desumanos do país.

É irônico que esse mandonismo em estado bruto (a verdade histórica do literato cordial) tenha encontrado em Lula seu grande aliado. Sem ele, Sinhazinha não teria sido eleita como foi e Sinhô não teria se mantido à frente do Senado.

"O Sarney tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", disse o petista em 2009, ao defender seu oligarca com jaquetão de escritor.

Fonte - Folha de S. Paulo - 23/08/2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Empresas usam brechas do Mercosul para não pagar imposto no Brasil

Indústrias se mudam para Argentina, Uruguai e Paraguai para importar insumos e exportar produtos para o Brasil sem pagar tarifas

Vários setores estão sofrendo com a concorrência de empresas que se instalam no Mercosul para utilizar brechas nas regras do bloco e pagar menos imposto. O objetivo é vender no Brasil, mas transferir parte da produção aos vizinhos garante vantagens que tornam o produto mais competitivo que o fabricado localmente. Ao se estabelecer na Argentina, no Uruguai ou no Paraguai, empresas brasileiras e multinacionais obtêm benefícios como importar insumos sem pagar tarifa de importação e isenção de Imposto de Renda. Além disso, aproveitam a guerra fiscal no Brasil e trazem o produto por portos que cobram menos ICMS.

Como os países do Mercosul integram um mercado comum, os produtos circulam sem pagar impostos. Também há reclamações contra Chile, Bolívia e México, nações com as quais o Brasil mantém acordos que permitem a movimentação de mercadorias sem taxas aduaneiras.

O Estado apurou que o esquema se repete nos setores químico, automotivo, têxtil, siderúrgico e máquinas. São máquinas da Argentina, carros do Uruguai, lençóis do Paraguai, chapas de aço do México. Um dos casos mais delicados em investigação pela Receita Federal é a importação de veículos montados no Uruguai pela chinesa Lifan.

O governo está investigando e punindo fraudes na origem do produto quando ocorre "maquiagem" - o valor agregado dentro do Mercosul é menor que o exigido. No entanto, se as empresas utilizam brechas do bloco, o Brasil fica de mãos atadas.


Brechas. Três brechas técnicas no Mercosul são as mais usadas: regras de origem, drawback e ex-tarifários. As regras de origem determinam se um produto pode ser considerado fabricado no Mercosul. Criadas em 1994, as regras variam conforme a mercadoria. Em geral, preveem um porcentual de valor agregado e/ou mudança na nomenclatura.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), tecidos da China, Paquistão e Índia recebem uma costura no Paraguai e se tornam lençóis, entrando no Brasil sem tarifa de importação. Na confecção, a regra de origem é "frouxa" e diz que basta o produto mudar de nome para ser "made in Mercosul".

sábado, 20 de agosto de 2011

Toma lá, da cá: Ministro é acusado de oferecer mesada a deputados do PP em troca de apoio político

Deputados do Partido Progressista procuraram na última quarta-feira a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para informar que, em guerra aberta pelo controle do partido, o ministro das Cidades, Mário Negromonte, estaria prometendo uma mesada de R$ 30 mil a parlamentares do PP em troca de apoio político para ele. Segundo reportagem, publicada neste fim de semana pela revista "Veja", as negociações oocorreriam dentro do próprio ministério. Negromonte estaria transformando o ministério num apêndice partidário, e usando o seu gabinete para tentar cooptar apoio.

O PP é o terceiro maior partido da base aliada, com 41 deputados e cinco senadores. Há seis anos o partido controla o Ministério das Cidades, uma pasta com um orçamento de R$ 22 bilhões, responsável por obras de instalação de redes de água, esgoto e construção de casas populares. De acordo com a matéria, o ministro Negromonte foi indicado ao cargo, na formação do governo Dilma, mais por suas relações com o PT da Bahia do que pelo trânsito que detinha junto aos colegas do PP. Seu nome não contaria nem com a simpatia de Dilma.

O grupo do PP ligado ao ex-ministro Márcio Fortes conseguiu, há duas semanas, destituir da liderança do partido o deputado Nelson Meurer, aliado de Negromonte. No lugar dele, assumiu deputado Aguinaldo Ribeiro. Para não perder o poder, Negromonte teria contra-atacado montando um bunker em uma sala anexa a seu gabinete, onde quatro aliados _ os deputados João Pizzolatti, Nelson Meurer, José Otávio Germano e Luiz Fernando Faria _ estariam tentando persuadir os deputados do PP a se alinhar novamente ao grupo do ministro.

De acordo com a revista, três dos 12 deputados que estiveram na última quarta-feira no ministério revelaram, sob a condição de anonimato, que ouviram a proposta de uma mesada de R$ 30 mil para apoiar Negromonte.

"Muitos ficaram assustados com a pressão que sofreram no ministério. Quando os argumentos se esgotavam, vinha a proposta do dinheiro", disse um parlamentar do PP à revista.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

FGV foi usada para fraudar licitação na Agricultura

O nome da FGV (Fundação Getúlio Vargas) foi usado indevidamente no ano passado para fraudar uma licitação do Ministério da Agricultura que terminou com a vitória da fundação mantenedora da PUC de São Paulo, informa reportagem de Andreza Matais e José Ernesto Credendio publicada na Folha desta sexta-feira (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

O contrato está no centro de um dos episódios que levaram nesta semana à queda do ministro Wagner Rossi (PMDB), que pediu demissão quarta-feira em meio a uma onda de denúncias de irregularidades no ministério.

Entidades rurais 'desconhecem' novo ministro da Agricultura

Em nota, Dilma lamenta saída de Rossi

Saiba quais ministros do governo Dilma já deixaram o cargo

Veja as suspeitas que levaram à demissão de Wagner Rossi
 
Nesta semana, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias de suposta corrupção no ministério. Há suspeitas de direcionamento de licitação e pagamento de propina.
No lugar de Rossi, o Planalto confirmou ontem a indicação do deputado gaúcho Mendes Ribeiro (PMDB-RS), indicado pelo seu partido.

OUTRO LADO
 
A Fundasp (Fundação São Paulo), mantenedora da PUC (Pontifícia Universidade Católica), informou por meio de nota que sua participação no processo de contratação seguiu todos os trâmites legais e que o serviço vem sendo prestado normalmente.

O Ministério da Agricultura informou ter enviado toda a documentação do processo de licitação para a CGU (Controladoria-Geral da União).

Além disso, a pasta afirmou, em nota, que pretende colaborar no inquérito da Polícia Federal para apurar suspeitas de irregularidades no contrato da Fundasp.


editoria de arte/folhapress
Leia mais na Folha desta sexta-feira, 19/08/2011.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Mais um no xadrez: PF prende investigado na Operação Voucher que estava foragido

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira o empresário e jornalista Humberto da Silva Gomes, um dos suspeitos de participar de irregularidades em convênios do Ministério do Turismo investigados pela Operação Voucher.
Ele estava nos Estados Unidos quando a operação foi deflagrada, na terça-feira (9), e apesar de ter conseguido um habeas corpus que o liberaria da prisão, não pagou a fiança determinada pela Justiça.

De Miami, investigado em operação da PF nega ser foragido

TCU determina bloqueio de bens de investigados na Operação Voucher
 
Segundo a Polícia Federal, Gomes chegou a ser preso na madrugada desta quinta-feira quando desembarcou no Aeroporto Internacional de Brasília. Ele apresentou o habeas corpus, mas na falta de meios previstos em lei para checar o pagamento da fiança fixado pelo juízo de Macapá, foi liberado.

"Posteriomente, a PF verificou junto ao juízo federal de Macapá que não houve o pagamento de fiança e em razão de sua quebra os policiais foram até a residência deles em Taguatinga para cumprir os mandados de prisão", diz nota divulgada pela PF.

O irmão de Gomes, Hugo Leonardo Gomes da Silva, sócio da Sinc Recursos Humanos, outra empresa investigada, também foi preso hoje pela PF por falta de pagamento de fiança.


SUSPEITAS
 
A empresa de Gomes, a Barbalho Reis Comunicação e Consultoria, é uma das suspeitas de servir de fachada para o desvio de R$ 4,4 milhões, dinheiro que seria usado para o treinamento de agentes de turismo em Macapá (AP).

Gomes teve a prisão preventiva decretada e, por estar fora do país, foi incluído na chamada "lista vermelha" da Interpol como foragido.

Em entrevista na segunda-feira (15) ao "Jornal da Record", da TV Record, Gomes confirma ser autor das declarações captadas pela Polícia Federal em que orienta um interlocutor a superfaturar contratos com o governo federal.

"É para o governo, joga o valor por três, tudo vezes três", diz Gomes em diálogo gravado com autorização judicial e publicado pela Folha. (Ouça a conversa)

A Operação Voucher, deflagrada no último dia 9 pela Polícia Federal, investiga um suposto esquema de desvios relacionados a convênio firmado entre a ONG Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável) e o Ministério do Turismo para capacitação profissional no Amapá.


Na ocasião, 36 pessoas foram presas na operação em Brasília, São Paulo e no Amapá, incluindo o agora ex-secretário-executivo do ministério, Frederico Silva da Costa, que estava na pasta desde 2003.
A reportagem tentou falar com o advogado de Gomes, mas não conseguiu contato até a publicação da notícia.

Fonte - Folha Online - 18/08/2011

Seis marcas envolvidas com mão de obra escrava

Etiquetas de seis grifes foram encontradas em uma confecção que utilizava trabalho estrangeiro irregular na cidade de Americana, interior de São Paulo

Carolina Guerra
Loja Brooksfield   
Etiquetas da Brooksfield e de outras cinco marcas foram encontradas em fábrica ilegal, em Americana (Divulgação)
 
Nem só a Zara entrou na mira do Ministério do Trabalho por comportar, em sua cadeia, peças originadas de trabalho realizado em condições análogas à escravidão. Em uma fiscalização realizada em maio deste ano, na cidade de Americana, interior de São Paulo, foi encontrada uma outra casa que funcionava como confecção e moradia de 52 trabalhadores, sendo a maioria deles bolivianos. No local havia uma produção de calças jeans que portavam etiquetas, além da Zara, de outras seis marcas: Ecko, Gregory, Billabong, Brooksfield, Cobra d’Água e Tyrol.

Como a maioria das peças era da Zara, a cadeia da rede espanhola no Brasil foi o alvo de mais investigações - que resultaram no flagrante da casa na zona norte de São Paulo. “Pretendemos chamar estas outras marcas para que ajustem as condutas em suas cadeias produtivas e será aberto um processo para apurar responsabilidades”, diz Fabíola Junges Zani, procuradora regional do Trabalho.

Estas pequenas confecções irregulares, que utilizam mão de obra ilegal estrangeira, também chamadas de facções, em geral produzem para uma empresa intermediária, que repassa as peças para as grandes marcas. “Os trabalhadores são aliciados e já chegam aqui com dívidas, por isso têm de ficar no trabalho. Isso caracteriza o crime de tráfico internacional de pessoas”, aponta Fabíola. Foi constatado, segundo a procuradora, que a casa em Americana não comportava espaço físico para circulação, Havia também fios expostos e botijão de gás dentro do dormitório improvisado – já que os trabalhadores cozinhavam dentro do quarto.

Repercussão – Ao tomar ciência do caso, a Associação Brasileira das Indústrias Têxteis e de Confecção (Abit) afirmou desconhecer esse tipo de prática por parte das varejistas de moda. “Infelizmente, confecções que atuam desta maneira irregular, além de concorrerem de forma desleal com seus pares no Brasil, denigrem o profissionalismo que o setor têxtil e de confecção sempre defendeu, e maculam a imagem da indústria da moda brasileira”, disse, em nota, Aguinaldo Diniz Filho,  presidente da entidade.

Fonte: Veja Online - 18/08/2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Organizações sem fins lucrativos receberam R$ 1,6 bilhão em 2011

As denúncias de desvios dos recursos transferidos para Organizações Não Governamentais (ONGs) trouxeram de volta o debate das funções destas entidades na sociedade civil. No final de julho, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, chegou a afirmar que o governo sabe que ONGs e entidades são criadas para “auferir recursos para as próprias pessoas”, ou seja, para fraudar dinheiro público.

Segundo o secretário, é preciso retomar a Consolidação das Leis Sociais, com a inclusão de mecanismos de controle mais rígidos para essas entidades. Vale lembrar, que no orçamento não existe uma rubrica específica para ONGs. Existe apenas a chamada “modalidade 50”, com as transferências para instituições privadas sem fins lucrativos, que englobam as próprias ONGs, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), as fundações, os partidos políticos e outras entidades similares.

Neste ano, já foram repassados R$ 1,6 bilhão dos cofres públicos nesta modalide. Cerca da metade deste valor, mais precisamente R$ 801,5 milhões, atendeu apenas 30 instituições, do total de 1.805 beneficiadas. Como historicamente os gastos com convênios são maiores no segundo semestre, a projeção é que o valor fique próximo do apresentado no ano passado, quando atingiu R$ 3,1 bilhões.

Como se repete nos últimos anos, os maiores repasses, equivalentes a R$ 178,8 milhões, foram transferidos para a Secretaria de Administração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para compor o Fundo Partidário, destinado à manutenção dos partidos políticos. Em segundo lugar, está a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), criada em 1989 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com o objetivo de construir infraestrutura de rede de Internet para as universidades e faculdades brasileiras, além de promover a capacitação de profissionais na área de tecnologia da informação e de comunicação. Estima-se que mais de um milhão de usuários são atendidos pela RNP, que interliga 600 instituições de ensino e de pesquisa. Os repasses neste ano já atingiram R$ 89,9 milhões.

A Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC) está em terceiro lugar, com R$ 70,7 milhões repassados. Vinculada à Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), esta OSCIP gerencia os recursos destinados a amenizar a falta de acesso à água de cinco milhões de pessoas na região do semi-árido. No ano passado, a AP1MC recebeu R$ 95,5 milhões, ficando apenas atrás do Fundo Partidário.

Também voltada para a área de ensino, pesquisa e extensão, a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa ligada a Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep-UFMG) está em quarto lugar, com recursos no valor de R$ 36,8 milhões, superior ao recebido no ano passado todo. Em 2010, a Fundep recebeu R$ 27,3 milhões.

Dos quase R$ 1,6 bilhão liberado neste ano, cerca de R$ 920 milhões saíram dos Ministérios da Ciência e Tecnologia (R$ 574,1 milhões), da Justiça Eleitoral (R$ 178,8 milhões) e do Ministério da Saúde (R$ 166,8 milhões). Este montante corresponde a 56,9% do total. Em quarto lugar está o Ministério do Esporte, com R$ 79 milhões conveniados.


Projeto de Lei

Desde 2004, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 3.877, que dispõe sobre o registro, fiscalização e controle das ONGs. O projeto é decorrente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) “destinada a apurar a liberação, pelo Governo Federal, de recursos públicos para organizações não governamentais (ONGs) e para organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs), bem como a utilização, por essas entidades, desses recursos e de outros por elas recebidos do exterior”, popularmente chamada “CPI das ONGs”.

O PL 3.877/04 está aguardando o parecer da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. A última comissão a aprovar o parecer do texto foi a de Trabalho, em julho de 2007, quando o então relator, deputado Nélson Marquezelli (PTB-SP), destacou “os sucessivos escândalos envolvendo autoridades públicas, que vêm emparedando o Poder Legislativo e o tornando perigosamente questionável aos olhos da sociedade”.

Cai mais um ministro de Dilma: Após escândalos em série, Wagner Rossi pede demissão

Colecionador de problemas, o ministro da Agricultura é o quarto auxiliar de Dilma Rousseff a cair, em sete meses de governo

Wagner Rossi: fim da linha Wagner Rossi: fim da linha (Cristiano Mariz)

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, pediu demissão na noite desta quarta-feira após um mês de denúncias de corrupção no ministério que ocupa. A série de reportagens de VEJA mostrando os desmandos e a corrupção na pasta comandada pelo peemedebista determinou a queda do ministro. Em carta enviada à presidente Dilma Rousseff, Rossi enumera feitos à frente da pasta e pede demissão em caráter irrevogável. O Palácio do Planalto ainda não se pronunciou sobre o pedido do ministro.

Wagner Rossi é o quarto auxiliar de Dilma Rousseff a cair, em sete meses de governo. Antes dele foram defenestrados do centro do poder Antonio Palocci, da Casa Civil. por não conseguir explicar um espantoso salto patrimonial; Alfredo Nascimento, dos Transportes, por ser conivente com um esquema de corrupção, mostrado em reportagem de VEJA; e Nelson Jobim, da Defesa, por criticar publicamente o governo.

A queda de Wagner Rossi foi sacramentada por uma carona de jatinho. Ele admitiu na terça-feira ter viajado a bordo do jato de sete milhões de dólares da Ourofino Agronegócios, empresa autorizada pelo ministério a produzir vacina contra febre aftosa e que aumentou, a partir desta autorização, seu faturamento em 81%. Ricardo Saud, um dos sócios da companhia, é assessor de Wagner Rossi.

Esta ligação mais do que suspeita foi só o último escândalo de um aliado que trouxe problemas em série ao governo que deveria ajudar a sustentar. Wagner Rossi dirigiu uma pasta onde um lobista atuava clandestinamente dentro do ministério, direcionando editais. Reportagem de VEJA mostrou a atuação de Júlio Fróes, conhecido como “Doutor Júlio” pelos servidores do órgão. Ele tinha acesso liberado à entrada privativa do ministério e usava uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja do prédio, onde está instalada a Comissão de Licitação - repartição que elabora as concorrências que, só neste ano, deverão liberar 1,5 bilhão de reais da pasta.

PF abre inquérito para investigar irregularidades na Agricultura e gabinete de Rossi vira alvo de denúncia

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura. Ao contrário do que fez quando as acusações atingiram o Ministério dos Transportes, a PF instaurou uma investigação formal de número 1526 e tomou na segunda-feira depoimento de Israel Leonardo Batista, ex-chefe da comissão de licitação da pasta comandada pelo ministro Wagner Rossi. No caso dos transportes, a PF sustentou que não havia necessidade de abrir uma nova investigação porque já havia muitos casos de fraudes em licitações de obras em rodovias em apuração pelo país. As novas denúncias em apuração atingem o gabinete do ministro Wagner Rossi.

A bancada do PSOL protocolou na noite de terça-feira representação contra o ministro dos Transportes, Wagner Rossi (PMDB), no Conselho de Ética Pública da Presidência da República. E, nesta quarta-feira, ministro Wgner Rossi nomeou três integrantes para a comissão de sindicância que vai apurar denúncias da revista Veja. Segundo o Diário Oficial da União, vão participar da investigação o procurador da Fazenda Nacional, Hélio Saraiva Franca, o advogado da União Carlos alberto de Oliveira e o agente administrativo do ministério Nadir da Costa Tavares.

AGRONEGÓCIO : Ministro da Agricultura admite ter usado avião de empresa com interesses na pasta

INFOGRÁFICO : Relembre os escândalos no governo Dilma

NO AR : Ourofino diz que ministro Rossi e seu filhos usaram 'poucas vezes' o jatinho da empresa

OPOSIÇÃO : PSDB pede à PGR apreensão das imagens do circuito interno de TV do Ministério da Agricultura

Em depoimento à PF, Batista confirmou declarações que dera à revista "Veja" acusando o lobista Júlio Fróes de circular com desenvoltura no ministério e ainda pagar propina a servidores por conta de licitações armadas pelo próprio lobista. O lobista tinha mesa junto aos servidores da comissão de licitação. O local privilegiado e o direito de circular pelo ministério foram assegurados pelo então secretário-executivo da Agricultura, Milton Ortolan, demitido depois que a denúncia veio a público.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mão de gato: Fora do cargo, Pagot ‘assina’ contrato do Dnit

Superintendência de Mato Grosso copia cabeçalho de despacho antigo firmado pelo ex-diretor para formalizar no ‘Diário Oficial’ termo aditivo de obra

Sem o termo aditivo, de acordo com informações da assessoria do Dnit, a autarquia teria de fazer outra licitação, o que envolveria um novo e demorado processo burocrático. Como prevê a Lei das Licitações (Lei 8.666. de 1993)
.
O fato de Pagot ter assinado o termo aditivo sem estar mais à frente do Dnit aponta para a falta de cuidado com a coisa pública. De acordo com a assessoria do Dnit, a superintendência de Mato Grosso simplesmente copiou o cabeçalho do último termo aditivo, feito em 20 de abril. Lá constava o nome de Pagot, ainda como ocupante da diretoria-geral. Por essa causa, o Diário Oficial de terça-feira, 16, publicará uma correção, desta vez sem o nome de Luiz Antonio Pagot.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 16/08/2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mensagens de candangos são encontradas no prédio da Câmara

As mensagens são de 1959, um ano antes da inauguração de Brasília, e foram deixadas por operários que trabalharam na construção do Congresso. 

Elas falam de amor, de esperança e de sonhos para o futuro do país.

O Congresso Nacional é o local de trabalho dos deputados federais e dos senadores. É a sede do poder legislativo federal. E como Brasília já tem 51 anos, nós esquecemos que esses prédios não estiveram sempre ali. Para os mais jovens, nem parece. Mas, no começo, aqueles edifícios eram um sonho.
Era pra consertar um vazamento no teto da Câmara dos Deputados. Quebra daqui, dali e veio a surpresa: “Quando descobriu, as escritas estavam lá embaixo”, conta um homem.

No vão, entre duas lajes, estão mensagens deixadas por candangos, operários que trabalharam na construção do Congresso. As mensagens foram escritas a lápis. Algumas em um pedaço de madeira, outras no concreto. As mensagens são de 1959, um ano antes da inauguração de Brasília. É como se uma cápsula do tempo tivesse sido aberta.

As inscrições falam de amor, de esperança e de sonhos para o futuro do país. Uma delas diz assim: "Se todos os brasileiros fossem dignos de honra e honestidade, teríamos um Brasil bem melhor".
A única assinada afirma: "Que os homens de amanhã, que aqui vierem, tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra". Foi escrita por José Silva Guerra. O nome dele aparece na folha de ponto de uma construtora arquivada no Museu da Câmara dos Deputados.

São memórias da construção da capital que emocionaram outros candangos. Reinaldo Carvalho Brandão, do Departamento Técnico da Câmara, começou a trabalhar na Câmara como segurança, há 45 anos. “Tem vários erros de português. A gente vê que a escolaridade era baixa, mas o conteúdo era grande”, diz.

O aposentado Claudionor Pedro dos Santos fazia a folha de ponto dos operários. “Saíram aquelas frases de dentro do coração dele, porque o que existia naquela época era humanidade e solidariedade acima de tudo”, destaca.